quarta-feira, maio 17, 2006

Flores de pedra

Sempre adorei as saudades que tinha de ti.
Elas apareciam a qualquer momento, sem mesmo esperar o adeus do beijo ou do toque, apareciam de um jeito súbito e próprio e eu já as sabia minhas quando chegavam.
Às vezes estavas mesmo perto, e quando ias a sair, eu agarrava-te só um bocadinho mais e sussurrava com os olhos fechados - vá lá, fica só mais meio segundo em mim - e tu ficavas... Davas-me aquele meio segundo, quando podias um pouco maior do que uma mini-eternidade, e um sorriso de bónus (sim, habituei-me ao teu sorriso quase gargalhada provocada por aquelas expressões estúpidas que até hoje não sabias de onde vinham!!) e só então, partias.
A minha saudade sempre foi precoce, chegava um pouco antes de ires, adivinhando a tua sombra fugidia.. mas até ela percebia que não fazia mal, que havia algo de certo no teu ir e uma certeza de reencontro em que o espaço dela seria ocupado novamente pelo calor de ti.
Tu voltavas, voltavas sempre para dizer à saudade que ela não era necessária...
De vez em quando, no meio de um dia cheio, roubavas tempo ao relógio para que as nossas saudades se juntassem e nos deixassem sozinhos um com o outro, num confundir de peles sôfrego que terminava sempre abruptamente.
Sempre gostei desses momentos roubados e da companhia que tu ou a saudade a saber a ti, me faziam.




Mas gosto ainda e sempre mais, do teu regresso ao fim de todas as tardes, da flor roubada que trazes, e da saudade que despejas na pedra fria que me cobre.
Agora já não sentes o juntar da nossa saudade e quando falas comigo não ouves as respostas ainda tolas que te sussurro ao ouvido.
Agora chegas demasiado triste, com lágrimas frescas e perguntas constantes que não sei responder... e partes, caminhas de braços caídos por entre tantas flores de pedra, levando sempre uma certeza maior de uma saudade que é para sempre.

2 Comments:

Blogger Noggy said...

que bonito.
ainda arranjas inspiracao para escrever estas coisas...A minha inspiracao anda um bocado seca, confesso.
culpa de quem? demasiadas desilusoes. a dada altura deixas de ter vontade de exprimir seja o que seja.
beijoca

10:35 da manhã  
Blogger lu said...

obrigada.. vindo de alguém que escreve tanta beleza, mesmo além das desilusões e alegrias já sofridas, é pa mim um verdadeiro elogio.
**

6:45 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home